quarta-feira, 7 de maio de 2008

Espaços Culturais, Agentes Culturais e Tunas

Este mundo tem coisas estranhas e às vezes incompreensíveis.
Na “coltura” existem pessoas com formas de estar variadas, lógicas de pensamento diversas e motivações distintas na sua ligação ao fenómeno.

Neste contexto, alguns tipos sempre me fizeram um bocado de comichão. Refiro-me a pessoas que se afirmam despreconceituosas [neologismo justificável neste contexto] sendo exactamente o contrário, a agentes culturais que mais parecem proxenetas apesar de se afirmarem contra a ditadura do capital, e a gestores de espaços culturais públicos que definem a sua programação, em 99% das vezes, para um reduzido número de espectadores. Posso ainda acrescentar os membros do poder político que mandam edificar espaços culturais perfeitamente desadequados das necessidades e com tipologias que originam, per si, défices brutais nas contas de gestão dos mesmos.

Em relação a este último caso, relembro o afirmado pelo Rui Veloso sobre a Casa da Música numa entrevista publicada há um par de anos, em que referia a impossibilidade de organizar eventos não-subsidiados nesse espaço, devido ao elevado custo/espectador decorrente do elevado preço do aluguer do espaço e do reduzido número de lugares.

Os pseudo-despreconceituosos são, notoriamente, uma classe provinda do ambiente politicamente correcto. Afirmam-se contra qualquer forma de discriminação, cultural ou outra, mas praticam-na em quem não pensa de forma idêntica.
Como curiosidade, experimentem passar de fato e gravata, de traje académico, ou mesmo de sapatinho de vela, em certos espaços onde predominem pessoas que se afirmem a favor da liberdade de vestir a seu bel-prazer, sem quaisquer condicionantes sociais. Não se arrependerão, acreditem.
Ora bem, esta tipologia tem o hábito de olhar de lado para tudo o que cheire a cultura académica não-não-convencional, num esquema mental idêntico ao atrás referido.

Os proxenetas anticapital são uma classe curiosa, pois para explorarem melhor os artistas – entre estes, as tunas – apregoam uma espécie do nacional-porreirismo, em que o porreirismo é dos artistas e o nacional é a sua “nacionalização” do trabalho dos outros. Um pouco como aquela malta que vende bonecos a favor de uma qualquer causa das criancinhas, dando 50% do dinheiro arrecadado para as ditas e guardando o restante; malta simpática, esta que cobra 50% de comissão em causas sociais…

Guardei para o fim uma malta engraçada, os gestores de espaços culturais públicos só para alguns. Vieram-me à lembrança por causa de duas salas de espectáculo outrora muito queridas pelas tunas.
Lembro-me dos festivais de tunas no Theatro Circo, em Braga, que enchiam e animavam o local, antes da remodelação. O que se passou? O aluguer do espaço ficou proibitivo? Leva muito menos gente do que antes? Foi essa a razão de as tunas terem passado para o Parque de Exposições? Ou o preço do aluguer só é proibitivo porque “as tunas não se adequam à tipologia do espaço”?
E o TAGV (Teatro ACADÉMICO Gil Vicente), em Coimbra, cuja programação é tudo menos académica? Já foi mau não permitirem espectáculos de tunas, mas impedirem a realização do Sarau Académico da Queima do ano passado nesse espaço, é demais. O evento mais académico de todos, em que diversos grupos da academia se apresentavam em alegria pura, não se pôde realizar no local. Isto passa pela cabeça de alguém?
Não tarda, proíbem a TUP de organizar o FITU no Coliseu do Porto, mesmo tendo o Orfeão ajudado na nobre tarefa de salvar o espaço das garras da IURD.

Já não há pachorra!!!

Tiago Alegre