quinta-feira, 24 de julho de 2008

É impressão minha ou isto será mesmo assim?


Tal como no cinema fantástico, nesta coisa das tunas parece-me existirem universos paralelos; algumas vezes entrecruzando-se e/ou partilhando efémeros momentos, na maioria das vezes evolucionando por caminhos singulares como uma coreografia em que os bailarinos quase por milagre não se tocam, apesar de partilharem o mesmo espaço.
Para lá de uma algo ilusória existência de referências comuns, tem-se tornado cada vez mais claro o desenvolvimento de dois reversos universos diversos*.
De um lado, as tunas mistas com os seus próprios festivais e circuitos de amizades, com as suas tunas clássicas e os seus tunos barões, com o seu próprio caldo cultural. Do outro, as masculinas** e femininas que – apesar de nada o fazer prever há uns anos – têm vindo a percorrer, se não o mesmo caminho, pelo menos a mesma rede viária e com paragens nas mesmas estações de serviço; e, naturalmente, com as suas próprias tunas clássicas, e os seus barões, festivais e amizades.
Dir-me-ão que existem muitos pontos em comum nestes dois pseudo-universos, para lá do imaginário natural do que é uma tuna. Concordo. E existir, acho que existem, mas surgem-me como cada vez menores, fugazes e estranhos. A partilha do mesmo palco sucede com bem menos frequência do que na última década do século passado e, se virmos bem as coisas, as referências comuns cingem-se, em boa parte, ao reconhecimento da autoria de algumas músicas deste nosso mundo tunal.
Por exemplo, quem é que, pertencendo desde há 5 anos a uma tuna mista, conhece os mais antigos elementos de uma masculina ou feminina da mesma academia?
E ao contrário? Não se passará exactamente a mesma coisa?
Curiosamente, isto não sucede se fizermos este exercício apenas entre tunas masculinas e femininas.
Como sei que a classificação e a qualificação das circunstâncias advêm de um artificialismo humano, na procura de um sentido e de uma ordem que, para nós, são inerentes à própria realidade, ponho algumas reservas sobre a fidelidade destes meus pensamentos.

Romeu Sereno


* Não digam mal, pois a cacofonia foi propositada.
** “Masculinas”, passe a redundância.