quarta-feira, 16 de julho de 2008

Equilíbrio e União Entre as Linhas Morais: o Caso da Tuna


Acho que conhecem tão bem como eu a questão que faz o título desta peça. Ou seja, não estão muito por dentro do assunto...

Como não sou de filosofias, apesar de gostar de filosofar no sentido lúdico do termo, havia dado com os olhos nisto vai para um par de anos e esta coisa me ficou, desde então, nos pensamentos (que é como quem diz num papelito em cima da mesinha de cabeceira), lá me decidi a inventar umas patacoadas sobre o tema.

No dito bocado de papel, estava escrito pelo meu punho o seguinte:

EQUILÍBRIO E UNIÃO ENTRE AS LINHAS MORAIS
Epicurismo e estoicismo
Ética da virtude e ética da felicidade
Ética do dever e ética da utilidade

Hmmm...
Equilíbrio e união” visa significar, digo eu, que os pratos da balança se relacionam biunivocamente e que tendem a estabilizar essa relação num ponto estável.
Linhas” quererá dizer que as duas partes partilham a mesma direcção, que não o mesmo sentido. Portanto, deslocam-se no mesmo caminho.
Morais” porque se calhar o tema enquadra bem o caso do taberneiro a que se faz referência neste artigo: http://www.portugaltunas.com/default.asp?n=2107&sec=1.

Epicurismo versus estoicismo
Julgo que uma tuna é um expoente máximo desta moeda de duas faces. Considerando que um epicurista será uma pessoa que procura os prazeres dos sentidos e que um adepto do estoicismo será alguém espartano, que advoga a austeridade na virtude, qual o tuno que não se revê ao mesmo tempo no prazer e na austeridade?
A boémia musicada que a figura de tuno carrega e a praxe de tuna não farão em conjunto esta dualidade? Na minha opinião, acho que sim. Tudo isto me faz lembrar os Lusíadas (o livro, não o grupo musical) enquanto epopeia de provações e abnegações sublimada no Canto X da Ilha dos Amores.
“Quem tem capa sempre escapa”, nos momentos duros e nos macios… acrescento eu.

Ética da virtude versus ética da felicidade
Quem nunca foi assediado pelas tentações da carne (em todos os sentidos) quando em tuna? Aquela miúda está-me a micar, mas a minha namorada é capaz de não apreciar esta história… Não bebo mais que já levo a minha conta, mas este Tapada de Coelheiros que acompanha a jantarada do evento é bastante apelativo.
Quem nunca se achou farto de aturar o vereador da câmara municipal naquele evento importante quando o que lhe apetecia era ir tocar umas modas com o resto da tuna?
Quem não fez das tripas coração ao tocar numa festa de solidariedade quando finalmente tinha sido convidado por aquela amiga especial para ir beber um café?
Quem nunca executou uma tarefa encomendada a um caloiro só para lhe demonstrar que a mesma era exequível e que a praxe de tuna tem um sentido?

Ética do dever versus ética da utilidade
Esta aplica-se bem às guerras trajanas; tanto às do imperador romano como às da nossa vestimenta…
Além desse aspecto, devemos seguir a tradição por dever, por utilidade ou por um equilíbrio entre as duas? O equilíbrio dos pesos relaciona-se com a densidade dos corpos. Algo pouco pesado e que ocupa muito espaço tem menos densidade do que algo mais pesado e do mesmo tamanho. Ocupando o mesmo espaço, os dois corpos não têm a mesma densidade, pois não têm o mesmo peso. Ou seja, há por aí muito fogo de vista que mais parece fogo-fátuo. A consistência pode ajudar…

Depois destas divagações também elas um pouco fátuas (reconheço), eis-me no epílogo.

Uma vez frequentei um pequeno curso numa associação de debate de ideias a que pertenço e que se centrava sobre “Ética”. De tudo o que ouvi, o que retive mais profundamente foi que o limite ético pessoal do comportamento de cada um deve ser estabelecido de modo a gerar um equilíbrio entre o correcto e o exequível. Se assim não for, arriscamo-nos a um niilismo moral ou a uma incapacidade de cumprimento dos limites éticos pessoais que estabelecermos.

Meus amigos, encontrar o fiel da balança parece-me ser o que ansiamos.

Obrigado pela paciência e que os meus companheiros de blog me desculpem a reduzida tunalidade destes pensamentos.

Romeu Sereno