quinta-feira, 20 de março de 2008

As Capas e os Seus Donos


Os engomadinhos, os coronéis, os javardolas, os pintarolas e os “à antiga”.

Ora bem. Vamos a isto.
Uma miúda que conheço disse-me, um dia, que distinguia a pessoa que estava debaixo da capa e batina pelos sapatos, pois que tudo o resto era igual. Em parte terá razão, mas eu vejo os capistas, em especial os tunos, pela forma como usam a… c-a-p-a.
Se passarmos à frente da questão geográfica, que também influencia a forma de usar o manto académico, restam-nos alguns pormenores para conhecer com quem deparamos.
Os engomadinhos. Estes meninos da mamã fazem-me lembrar o personagem do livro homónimo da colecção do Lucky Luke, mas sem a fleuma britânica dessa figura que chega de comboio ao Oeste provindo da costa atlântica dos EUA. A capa extremamente bem dobrada, algumas vezes passada a ferro e vincada, é sinal de que a mamã ainda lhes diz como ficam tão bem, de traje, nas fotografias de família. O gozo que dá desalinhar-lhes a capa nem que seja um milímetro é indizível.
Os coronéis. Estes oficiais fazem-me lembrar aquela malta que coleccionava latas de gasosa e de cerveja quando eu era miúdo. Eu passei de autocarro em Freixo de Espingarda às Costas (piada antiga sem piadinha nenhuma) e por isso tenho o brasão da junta de freguesia vizinha, pois já não havia o daquela. É como se fossem medalhas conquistadas na guerra.
Os javardolas. Apõem tudo na capa, Chegam ao ponto de pendurar preservativos usados, demonstrando que também conseguem produzir sémen e estão abertos à contratação como cobridores de vacas. Vomitam-lhe para cima, de propósito, limpam a sanita com ela e ainda a usam para toalha de mesa (como alguns dementes que o fazem com a bandeira nacional). Fazem-me lembrar alguns habitantes da Índia com o seu paninho pendurado ao ombro que serve para tudo. Quem conhecer, perceberá a comparação.
Os pintarolas. Usam a capa com estilo: ora quase arrastando a dita pelo chão com ar négligé, ora traçando-a de colarinho à mostra, ora passando-a por cima da miúda do lado por que estará com frio numa tarde de Verão em Sevilha, ora esquecendo-se dela em cima da coluna da discoteca, porque atrapalha e não dá para dançar com ar cool.
Os “à antiga”. A capa é o bem mais precioso do mundo e nunca larga a batina. E esta nunca larga o corpo. Na mesma tarde de Sevilha, vão parar ao hospital com uma desidratação gigantesca, mas adormecem com o soro num braço e a capa no outro. Os emblemas só surgirão à mostra se forem em número minimalista e como que por acaso.

No meu caso, poderei dizer que, tal como qualquer tipo com a mania que é pós-moderno, tenho um estilo próprio e não me enquadro em nenhuma categoria destas…
Pretensiosismo de autor de blogue, apenas.

Marcelo Trintão

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