quinta-feira, 17 de abril de 2008

Sinais dos tempos…


Ainda me lembro…
Aos anos…
Havias de ver…
Aquilo é que era…
Nem imaginas…
Antigamente é que era bom…


De quando em vez, dou por mim a proferir ditos destes em ambiente de tuna. De mal, nada terá – direis vós, considerando a minha provecta idade tunística.
Sei que são expressões estafadas, mas trazem água no bico se analisarmos o contexto em que as uso. Um dos momentos em que tal sucede é em festivais com o prémio tuna + tuna. Diversas tunas participantes nestes eventos apresentam o hábito – que não se verificava por sistema há uns anos – de tocar na área social da instalação cultural enquanto decorre a actuação das restantes no palco “oficial”.
À partida, isto não traria qualquer problema se não se verificassem uns quantos pormenores:
1. Por vezes, o volume de som que produzem ouve-se na sala de espectáculo, dando um efeito de estereofonia esquizofrénica aos espectadores, que passam a ouvir duas actuações numa só;
2. Tocam apenas e durante as actuações das tunas concorrentes e arrumam os instrumentos logo após a votação do júri;
3. Fazem uma rodinha, parecendo tocar apenas para si;
4. Têm a indelicadeza de não esperar que outros ajuntamentos terminem de tocar, transformando uma eventual desgarrada numa guerra surda;
5. Os elementos destas tunas, por hábito, não se misturam musicalmente com outros tunos, a não ser para mostrar que tocam melhor que essoutros;
6. Para corolário, estas pessoas ainda conseguem, sem ver a actuação doutras tunas, refilar por causa da atribuição “injusta” de uma estatueta.

Não questiono quem toca na área social, pois também o faço amiúde. Questiono, sim, quem o faz marimbando-se literalmente nos outros e sem procurar a convivência com as restantes tunas.
Felizmente, estas práticas, apesar de muito difundidas, não estão totalmente generalizadas, o que permite ir revivendo a tal época (decerto muito naïf) em que se viam ajuntamentos de elementos de várias tunas em verdadeiro convívio musical… e sem incomodar quem actuava em palco.

Sinais dos tempos…

Romeu Sereno

2 comentários:

Anónimo disse...

Já não era sem tempo... Alguém desses velhos tempos a escrever algumas palavras atempadas e que amaduraram com o passar dos tempos.
O Albert dizia que o tempo é relativo e eu acho que a nossa presença nele (tempo) também o é. Só quem ainda vive no tempo/meio contemporâneo é que pode referir expressões como estas (do autor do blog), mas não deixa de ser o tempo delas. As coisas mudam através do tempo ("mudam-se os tempos, mudam-se as vontades") e nós Humanos não somos assim tão fugazes para que não nos apercebamos das mudanças. Mas não deixa de ser o nosso tempo

TunosTunas disse...

Caro Fernando, a minha visão é apenas a de um dos autores do blogue. A diferença de percepções em relação ao mundo é o que permite a dialéctica e a construção intencional subjacente à mesma.
Digo intencional, porque também existe, na dialéctica, a hipótese da desconstrução pura e dura.
Mas não se confunda esta desconstrução com a crítica e a autocrítica, pois não existe construção verdadeira sem se avaliar o que se constrói...

Romeu Sereno