O Serafim era um gajo que havia bebido dos livros – e provavelmente da família – utopias revolucionárias e histórias da luta política à antiga, daquelas com discussões acaloradas pela boémia e pela porrada da polícia. Tudo o que lhe cheirasse a luta estudantil e a uma vida académica significante e marcante seria decerto para explorar. Não era a animação abjecta que procurava, mas tão só a vivência de momentos relevantes no seu percurso, a exemplo do que outras gerações estudantis haviam feito.
Nesses tempos, dois espaços se prestavam a encher-lhe as medidas. O primeiro e mais natural era a política académica, incluindo umas tertúlias informais que por vezes se geravam nesse ambiente das lutas académicas dos 90. O segundo era a tuna, com o seu imaginário das capas pretas, da boémia e da irreverência que transportava.
Tive o grato prazer de me cruzar com este personagem nestes dois espaços. No campo político, partilhávamos discussões infindas à volta de umas cervejolas com mais dois marmanjos – um deles actual presidente de uma câmara municipal, o outro uma referência para a malta da nossa tuna, apesar de estar retirado há muito – e analisávamos a actuação nos órgãos do poder universitário, apesar de sermos de órgãos diferentes e de não partilharmos os mesmos ideais.
Concomitantemente, o Serafim andava na tuna e encarava a coisa com um espírito que não conheci em muitos. Na altura, a praxe da nossa tuna era assim uma coisa um bocado para o insípida, a roçar a mera palhaçada. Isto da tuna sem praxe de qualidade é para meninos e o Serafim ameaçou sair se não fosse praxado com o mínimo de exigência, rigor, dureza e ritual! Julgo que foi aqui que abrimos a pestana e começámos a perceber que a tuna não era só a festa…
Marcelo Trintão
P.S. Tanto a alcunha como o nome deste personagem não são os originais, por motivos óbvios.
Nesses tempos, dois espaços se prestavam a encher-lhe as medidas. O primeiro e mais natural era a política académica, incluindo umas tertúlias informais que por vezes se geravam nesse ambiente das lutas académicas dos 90. O segundo era a tuna, com o seu imaginário das capas pretas, da boémia e da irreverência que transportava.
Tive o grato prazer de me cruzar com este personagem nestes dois espaços. No campo político, partilhávamos discussões infindas à volta de umas cervejolas com mais dois marmanjos – um deles actual presidente de uma câmara municipal, o outro uma referência para a malta da nossa tuna, apesar de estar retirado há muito – e analisávamos a actuação nos órgãos do poder universitário, apesar de sermos de órgãos diferentes e de não partilharmos os mesmos ideais.
Concomitantemente, o Serafim andava na tuna e encarava a coisa com um espírito que não conheci em muitos. Na altura, a praxe da nossa tuna era assim uma coisa um bocado para o insípida, a roçar a mera palhaçada. Isto da tuna sem praxe de qualidade é para meninos e o Serafim ameaçou sair se não fosse praxado com o mínimo de exigência, rigor, dureza e ritual! Julgo que foi aqui que abrimos a pestana e começámos a perceber que a tuna não era só a festa…
Marcelo Trintão
P.S. Tanto a alcunha como o nome deste personagem não são os originais, por motivos óbvios.